segunda-feira, 4 de junho de 2012

São Pedro de Verona, Mártir Dominicano do século XIII

Ao celebrarmos a memória de São Pedro Mártir trazemos para o conhecimento de todos mais um episódio da vida deste Santo Dominicano, um milagre que revela a profunda protecção da Ordem e dos seus filhos pela Virgem Maria. Uma vez mais servimo-nos do texto que frei Manuel de Lima compôs para o Agiológio Dominico publicado em Lisboa em 1710 na Oficina de António Pedrozo Galram.

Quanto mais se publicava a fama da santidade, doutrina, e milagres do nosso Santo frei Pedro, tanto crescia mais nos hereges a obstinação, e raiva, com que procuravam todas as ocasiões de desacreditá-lo.
Tinha já o Sumo Pontífice inocência IV instituído a frei Pedro Inquisidor da Fé em todo o estado de Milão, contra a herética pravidade, e ele andava incansavelmente exercitando este oficio, e lançando fora do escolhido campo da Igreja, as maliciosas raposas de Sansão, que com o fogo da sua perversa doutrina intentavam abrasar as verdades Católicas. Não se pode explicar quanto lhe custou o querer exercitar fielmente este ministério; porém favorecia-o Deus à custa de prodígios, como veremos.
Tinha-se determinado uma pública, e solene disputa em matérias da Fé entre os hereges, e Católicos; assignado o dia, e escolhida a hora juntaram-se os hereges no lugar destinado, e os Católicos não apareciam. Sucedeu que neste tempo passou o Santo Inquisidor a caso por aquela parte. Convidaram-no os inimigos da Fé para a disputa, visto faltarem os seus Cristãos. Foi isto tão público, e diante de tanta gente, que não podia o Santo deixar de aceitar, não obstante entender, que disputas públicas em semelhantes matérias, nunca convêm sem preceder grande estudo, e oração. Por obviar o escândalo, se resolveu a assistir à contenda.
Começou logo um dos hereges, que era o Mestre dos mais, a propor os sofísticos argumentos; e o fez com tal arrogância, com palavras tão concertadas, e com falácias tão subtis, porque era homem de muito engenho, e eloquência, que o Santo se viu perplexo, e pediu tanto tempo para responder, quanto foi necessário para ir a uma igreja vizinha a fazer breve oração.
Concedida a súplica, entrou ele no templo, com grande aflição: porque conjurando-se o inferno com a heresia, o tentou o demónio com alguns enganos. Prostrou-se diante de uma imagem de Nossa Senhora pedindo-lhe, que como destruidora das heresias, quisesse alcançar-lhe a firmeza da Fé; e como estrela da manhã, luz para responder a tão altivo competidor, e confundir a sua soberba.
Consolou a Rainha dos Anjos este fidelíssimo servo: dizendo-lhe por boca da sua imagem as mesmas palavras, que seu Unigénito Filho disse à cabeça da Igreja, e Príncipe dos Apóstolos São Pedro. ‘Eu roguei por ti, Pedro, para que não falte a tua fé; livre de teus inimigos, confirma os teus Irmãos, que são os mais Religiosos da tua Ordem, que te hão-de seguir no Oficio’.
Animado São Pedro com esta promessa, voltou onde o contrário o estava esperando com grande multidão de hereges, dando-se já por certa a vitória. Pediu-lhe o servo de Deus, que tornasse a repetir os argumentos propostos para lhe dar a resposta em forma. E querendo o herege fazê-lo, achou que o Senhor lhe tinha presa a língua; de tal modo, que por mais que quis dizer, não pôde proferir palavra.
Vendo-se impossibilitado para falar, intentou explicar-se com sinais; mas então acabou este perverso de conhecer, que não só estava mudo, mas imóvel para fazer semelhantes demonstrações. Confuso, e pasmado, o Heresiarca com todos os seus companheiros, se ausentaram; e os Católicos alegres, ficaram louvando a Deus.
À vista de caso tão prodigioso, se seguiram milagrosos efeitos: porque dos hereges, que estavam presentes, se reduziram muitos à nossa Fé. [1]

[1] LIMA, Frei Manuel de – Agiológio Dominico. Tomo II. Lisboa, Oficina de António Pedrozo Galrram, 1710, páginas 143-144.

Ilustração: “A morte de São Pedro de Verona”, de Giovanni Gerolamo Savoldo.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Obrigada por partilhar connosco um episódio da vida de São Pedro de Verona, Mártir Dominicano, no dia em que a Igreja e particularmente, a Ordem de São Domingos celebra a sua Memória, que como nos afirma …”revela a profunda protecção da Ordem e dos seus filhos pela Virgem Maria.”…
    Frei José Carlos, o texto que partilha faz-nos reflectir sobre o bem e o combate do mal. Que o Senhor o abençõe e proteja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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